Ciência comprova que cachorros têm habilidade de reconhecer emoções humanas

O cachorro é considerado o melhor amigo do homem. O animal tem bastante personalidade e muitas qualidades, conquistando facilmente a maioria das pessoas com demonstrações de carinho e muita vontade de brincar.

Dóceis, protetores, agitados e companheiros, os cães já fazem parte da vida de 37,1 milhões de lares brasileiros.
Agora a ciência comprovou que os cachorros têm a habilidade de reconhecer emoções humanas, pelo menos alegria e a raiva.

A conclusão é resultado de um estudo realizado pela cientista brasileira Natalia Albuquerque na Universidade de Lincoln, no Reino Unido, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo foi publicado na revista Biology Letters.

A equipe avaliou como os animais reagiram a sons e fotografias de cães e humanos com expressões positivas (felicidade/brincadeira) e negativas (raiva/agressividade).

Durante o teste, cachorros foram expostos a imagens de cães e humanos com expressões de alegria e raiva, combinadas a diferentes sons - Imagem: Natalia Albuquerque
Durante o teste, cachorros foram expostos a imagens de cães e humanos com expressões de alegria e raiva, combinadas a diferentes sons – Imagem: Natalia Albuquerque

Ao todo, 17 cachorros de diferentes raças foram expostos a dois tipos de estímulos emocionais, o visual e o auditivo.

As fotografias de humanos e animais, com diferentes expressões, foram projetadas em telas, e paralelamente, foi reproduzido um som neutro ou vocalização positiva ou negativa, que podia ou não corresponder às emoções expressas nas imagens.

Para evitar que os animais reconhecessem alguma palavra específica, as vocalizações humanas eram feitas na língua portuguesa, visto que era uma língua desconhecida aos cães participantes do estudo, um cuidado feito para que os animais focassem no conteúdo emocional do som.

Os resultados mostraram que os cachorros passavam mais tempo a observar as expressões que combinavam com os sons, demonstrando o que os pesquisadores chamam de ‘preferência do olhar’.

“Este é um paradigma bastante consolidado, rotineiramente utilizado no estudo de diferentes espécies animais. Ele permite que um indivíduo avalie os dois estímulos visuais apresentados simultaneamente e decida qual dos dois é mais associado ao som. Neste paradigma, espera-se que, se o animal é capaz de reconhecer o conteúdo dos estímulos, ele vá passar mais tempo olhando para a face positiva ao escutar o som positivo e para a face negativa ao escutar o som negativo” explica Natalia, doutoranda em psicologia experimental na USP.

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Segundo especialistas, estudo comprovou que cachorros possuem uma representação mental do que são emoções positivas e negativas – Imagem: Divulgação

Portanto, para os cientistas o resultado dos testes demonstra que os cães são capazes de reconhecer as emoções de outros cães e também as de seres humanos.

“Isso quer dizer que esses animais possuem uma representação mental do que são emoções positivas e negativas”, destaca a pesquisadora.

Esta é a primeira vez que se demonstra a habilidade de reconhecer emoções de indivíduos da mesma espécie em mamíferos não primatas, e a primeira evidência de reconhecimento de emoções de indivíduos de outra espécie em animais não humanos.

Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que os cachorros podiam diferenciar expressões faciais distintas. Porém, o reconhecimento de emoções é uma habilidade muito mais complexa, pois exige extrair informações de diferentes estímulos e integrar essas informações em uma percepção coerente.

“Outros estudos mostraram que cães são capazes de discriminar expressões emocionais, mas nós mostramos que eles podem fazer mais do que isso: eles conseguem acessar seu conteúdo”, comemora Albuquerque. Embora sejam filogeneticamente distantes de nós, os cachorros convivem com os seres humanos há milhares de anos.

Fonte: Instituto Ciência Hoje/ RJ