Bioquímico reverte resistência de células cancerígenas a quimioterápico

O bioquímico Roberto Schreiber, pesquisador do Laboratório de Biologia Cardiovascular da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, demonstrou que o aumento dos níveis de microRNA-374b (miR-374b) pode restaurar a sensibilidade de células cancerígenas pancreáticas humanas resistentes à cisplatina – um quimioterápico comumente usados no tratamento da doença.

ju_676_p4_a“MicroRNAs são pequenas moléculas não-codificantes, com cerca de 22 nucleotídeos, que regulam o funcionamento do gene. No entanto, cabe ressaltar que, assim como existem várias vias para estabelecer o câncer e a quimioresistência, podem haver múltiplos caminhos para restaurar a quimiosensibilidade, assim como outros MicroRNAs que poderão ter efeitos semelhantes ao estudado”, explicou Schreiber.

A pesquisa ‘Evidence for the role of microRNA 374b in acquired cisplatin resistance in pancreatic cancer cells’ foi realizada por Schreiber durante seu pós-doutorado no Instituto de Bioengenharia, Biociência e Centro Integrado de Pesquisa do Câncer da Escola de Biologia do Instituto de Tecnologia de Georgia, Atlanta, Estados Unidos. Os resultados foram publicados no periódico Cancer Gene Therapy e também na edição de maio da revista de divulgação científica Science Daily.

O bioquímico comparou os níveis de mais de dois mil microRNAs humanos em uma linhagem de células pancreática resistentes à cisplatina, denominada BxPC3-R. Essas células são derivadas de células pancreáticas BxPC3, sensíveis ao agente quimioterápico.

As células BxPC3-R receberam aumento gradual de concentração do fármaco ao longo de mais de 20 dosagens durante a pesquisa, até ficarem resistentes. A pesquisa levou mais de um ano para ser concluída.

“Descobrimos que a resistência adquirida de células BxPC3 à cisplatina foi acompanhado por alterações significativas na expressão de 57 microRNAs, dos quais 23 foram regulados negativamente e 34 foram regulados positivamente. É possível que muitos, se não todos esses microRNAs, expressos diferencialmente, podem ter contribuído direta ou indiretamente para a aquisição de resistência a drogas em células BxPC3-R”, disse Schreiber.

“A metodologia de microRNAs é a mesma para câncer ou doenças vasculares”, reforçou o bioquímico – Imagem: Divulgação

De acordo com John McDonald, pesquisador e coordenador do laboratório norte-americano onde a pesquisa foi desenvolvida, há evidências crescentes de que os microRNAs podem estar envolvidos em muitos processos que vão desde a evolução do câncer até doenças cardíacas.

“Os microRNAs são novos alvos terapêuticos. Poderemos, um dia, ser capazes de alterar os níveis de microRNAs para restaurar a sensibilidade das células cancerosas de pacientes que desenvolvem resistência à quimioterapia”, revelou John McDonald em entrevista concedida ao Science Daily.

Segundo Schreiber, o período de pós-doutorado nos Estados Unidos e o desenvolvimento da pesquisa permitiram a ele aprender as técnicas de cultivo das células, a análise de microRNAs e outras ferramentas que o pesquisador da Unicamp irá, agora, aplicar em estudos de hipertensão. “A metodologia de microRNAs é a mesma para câncer ou doenças vasculares”, reforçou o bioquímico.

Para o cardiologista e pesquisador responsável pelo Laboratório de Biologia Cardiovascular da FCM, Wilson Nadruz, a análise da expressão de microRNAs pode ser útil para a compreensão dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento de complicações relacionadas à hipertensão arterial, como hipertrofia cardíaca, doença arterial coronária, acidente vascular cerebral e insuficiência renal.

“Nossa hipótese é que a expressão de alguns microRNAs esteja associada ao maior desenvolvimento destas complicações. Neste contexto, é possível que os níveis de alguns microRNAs presentes no sangue sirvam como biomarcadores de lesões induzidas por hipertensão arterial, contribuindo para estimar o risco cardiovascular em pacientes hipertensos”, revelou Nadruz, que faz parte da equipe do Cepid-OCRC da Unicamp.

Publicação

Título: “Evidence for the role of microRNA 374b in acquired cisplatin resistance in pancreatic cancer cells”

Autores: R Schreiber, R Mezencev, L V Matyunina, J F McDonald

Unidade: School of Biology, Petit Institute of Bioengineering and BioSciences and Integrated Cancer Research Center, Georgia Institute of Technology, Atlanta, GA, USA, e Laboratório de Biologia Cardiovascular da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp

Periódico: Cancer Gene Therapy, 2016; DOI:10.1038/cgt.2016.23

Fonte: Jornal da Unicamp