Esquizofrenia e esclerose lateral amiotrófica é tema de pesquisa

Segundo o Ministério da Saúde, a incidência da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) na população varia de 0,6 a 2,6 pessoas a cada 100 mil habitantes.

A sobrevida média dos pacientes com ELA varia entre três e cinco anos - Fonte: Divulgação
A sobrevida média dos pacientes com ELA varia entre três e cinco anos – Fonte: Divulgação

De acordo com a Portaria 496 do órgão, que define o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para tratamento da ELA, a idade é um dos fatores mais comuns para a ocorrência da doença, que atinge sobretudo pessoas com idade entre 55 e 75 anos.

Acredita-se que 80% dos neurônios motores já tenham sido perdidos quando aparece o primeiro sintoma. Por isso, a sobrevida média dos pacientes com ELA varia entre três e cinco anos.

Já a esquizofrenia, segundo o médico psiquiatra e professor de psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, Wagner Gattaz, é uma doença frequente e universal que incide em 1% da população e ocorre em todos os povos, etnias e culturas.

Esquizofrenia é uma doença frequente e universal que incide em 1% da população - Foto: Divulgação
Esquizofrenia é uma doença frequente e universal que incide em 1% da população – Foto: Divulgação

Em cada 100 mil habitantes, surgem de 30 a 50 casos novos por ano. Neste momento, 5% da população mundial têm esquizofrenia.

Portanto, em termos de Brasil, isso significa que 800 mil habitantes são portadores dessa doença.

Com a intenção de melhorar a qualidade de vida das pessoas que são portadoras dessas doenças, e mesmo de impedir futuramente a progressão dessas desordens, a Dra. Tatiana Rosado Rosenstock, professora do Departamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, iniciou uma pesquisa que visa entender o mecanismo pelo qual neurônios e astrócitos ficam disfuncionais e morrem ao longo da ELA e da Esquizofrenia.

Além disso, a pesquisa também busca uma maneira de impedir esse processo de “disfunção” através de modificações epigenéticas; assim, essas alterações poderiam levar ao aumento da produção de energia pelas mitocôndrias, organelas conhecidas por serem a central energética das células.

Dra. Tatiana Rosado Rosenstock, professora do Departamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, iniciou uma pesquisa que visa entender o mecanismo pelo qual neurônios e astrócitos ficam disfuncionais e morrem ao longo da ELA e da Esquizofrenia
A pesquisadora Dra. Tatiana Rosado Rosenstock (foto) deseja melhorar a qualidade de vida das pessoas que são portadoras dessas doenças – Foto: Amanda Siena

“De uma maneira bem linear buscamos modificar genes que possam levar a um aumento da função da mitocôndria resultando em um aumento de energia e, por consequência, da sobrevivência neural” explicou a doutora.

A pesquisa faz parte do Projeto Jovem Pesquisador e foi aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Sobre ELA e esquizofrenia

A ELA é provocada pela degeneração progressiva no primeiro neurônio motor superior no cérebro e no segundo neurônio motor inferior na medula espinhal. Esses neurônios são células nervosas especializadas que, ao perderem a capacidade de transmitir os impulsos nervosos, dão origem à sintomatologia da doença.

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica que se caracteriza, entre outras coisas, pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima de um complô diabólico tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento nem bom senso que a convença do contrário.

Esquizofrenia: Doença psiquiátrica

downloadA professora ressaltou que mesmo que a esquizofrenia seja uma doença psiquiátrica, é possível realizar estudos para melhorar a qualidade de vida destes pacientes.

“Pensando na clínica, um paciente não tratado ao longo de 10 anos de crises sucessivas terá maior processo degenerativo do que um indivíduo que teve apenas um único surto psicótico. Desta forma, buscar entender, com diversas metodologias e diferentes modelos, como se inicia o processo de disfunção neural e impedir que ele progrida (e por consequência que as células morram), impediria crises futuras, melhoraria a condição do paciente, assim como diminuiria a comorbidade associada à doença” elucidou Tatiana.

Além disso a pesquisa, visa buscar uma forma de neuroproteção para os dois principais tipos celulares do cérebro através da utilização de moduladores de lisinas deacetilases e, por conseguinte, possibilitar que novas técnicas terapêuticas possam ser desenvolvidas.

Resultados: O que esperar?

De acordo com a professora, os resultados esperados com a pesquisa é de que após modificações epigenéticas, haja um aumento da função mitocondrial nos diferentes modelos propostos, o que deverá ser refletido por um aumento da atividade sináptica, já que a neurotransmissão em si é dependente de energia.

“Creio que em 2 anos parte dos resultados já tenham sido obtidos com os diferentes modelos de ELA e SHZ. Acredito que ao final dos 4 anos os objetivos tenham sido alcançados integralmente possibilitando que novos projetos, utilizando amostras humanas, possam ser iniciados” afirmou.

Colaborações de outros pesquisadores

A Prof. Dra. Tatiana Rosado não está sozinha, ela terá colaborações de outros pesquisadores, como os Profs. Hudson Buck, Prof. Titular e Chefe do Departamento de Ciências Fisiológicas e Prof. Quirino Cordeiro Junior, Prof. Adjunto e Chefe do Departamento de Psiquiatria e Diretor Técnico do CAISM (Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental) da Santa Casa de São Paulo.

Além disso, ela também terá colaborações de docentes dos departamentos de Bioquímica (Prof. Isaías Glezer) e Farmacologia (Profa. Mirian Hayashi) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), do Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais para Biologia e Medicina (CEDEME, UNIFESP) (Profa. Clélia Antônio) e da Universidade de São Paulo (USP) (Prof. Cristóforo Scavone).

Dra. Tatiana (centro) e sua equipe- Foto:
Dra. Tatiana (centro) e sua equipe- Foto: Amanda Siena

“Eu acredito que ter e manter uma rede de boas colaborações assegura que todos os experimentos propostos possam ser realizados; nesse sentido, a troca de conhecimento e do aprendizado de novas técnicas garante a evolução da ciência” disse a docente.

 

Fonte: Visão Ciência